A palatinose é muito difundida nos esportes de endurance com a alegação de ser um carboidrato que não causa pico de glicemia.
Em repouso, sua ingestão realmente gera aumentos mais lentos nos níveis de glicose quando comparado com a sacarose (açúcar de mesa) tanto em indivíduos saudáveis (sem patologias) como em diabéticos.
Entretanto, durante a atividade física, e principalmente durante esporte de endurance (contínua >30min), a glicose que chega na corrente sanguínea é rapidamente capturada pelos tecidos (ex: muscular) para gerar energia. Ou seja, as respostas glicêmicas são distintas para situação de repouso e durante a atividade física.
E ainda, são distintas entre modalidades, se analisarmos outros tipos de esportes como o futebol, atividade intermitente, a resposta no perfil glicêmico será diferente do endurance.
O que é a Palatinose?
A palatinose (isomaltulose) é um carboidrato dissacarídeo, ou seja, formado por 2 moléculas sendo uma de glicose e uma de frutose. É a mesma fórmula molecular da sacarose (o açúcar de mesa) mas com ligações diferentes. Mas como assim? Ela geralmente é sintetizada por meio de um rearranjo enzimático da própria sacarose. Naturalmente é encontrada em baixas quantidades na cana-de-açúcar e no mel (<2%).
Por conta dessa ligação diferente, a palatinose demora mais para ser digerida e absorvida, e por isso gera menor pico glicêmico quando comparado à sacarose (ou maltodextrina+frutose) em repouso.
Estudos com ciclistas
No primeiro estudo compararam o uso da Palatinose x Sacarose x Água, em 10 ciclistas homens, treinados, por 150min @ ~60% VO2max.
No segundo estudo foi testado o uso da Palatinose x Maltodextrina+Frutose (1:0,8) em 9 ciclistas homens, treinados, por 2h @ ~60%VO2max.
No primeiro estudo a ingestão de palatinose resultou em uma resposta de insulina ligeiramente menor em comparação com a de sacarose, enquanto as concentrações de glicose não diferiram após o consumo dos dois carboidratos.
Também avaliaram a oxidação de carboidratos e gorduras, mostrando que houve menor oxidação total de carboidratos com o uso da palatinose (versus sacarose), sendo menor oxidação exógena e maior oxidação endógena, resultando num maior consumo de glicogênio; houve também maior taxa de oxidação de gordura.
Já com o uso de sacarose houve maior oxidação total de carboidrato, mas com menor oxidação endógena, ou seja, poupando glicogênio (importante em prova).
O segundo estudo apresentou resultados semelhantes ao primeiro referente à oxidação de carboidratos e nos níveis de glicemia plasmático, mas avaliou também a percepção de desconforto intestinal (devido ao retardo no esvaziamento gástrico pelo seu maior tempo de digestão).
Esse estudo mostrou que a percepção de desconforto intestinal foi aumentando ao longo do tempo de exercício. Com até 90 min de duração, os ciclistas consideravam a percepção de desconforto “leve-moderado” e com 120 min a percepção passou para “moderado-forte”. Ou seja, teve maior desconforto intestinal com o uso da palatinose quando comparado ao mix Malto:Frutose.
Nos dois estudos, os níveis de glicemia plasmática se mostraram similares com ambos carboidratos.
Conclusão
Os níveis de glicemia foram similares com a ingestão dos dois carboidratos, sacarose e palatinose.
Oxidação de carboidrato foi maior com consumo de sacarose ou mix maltodextrina:frutose (1:0,8), poupando glicogênio muscular.
A taxa de oxidação de gordura foi maior com o uso de palatinose; e utilizou mais glicogênio.
O uso de palatinose pode reduzir o esvaziamento gástrico com o aumento da duração do exercício causando maior percepção de desconforto intestinal.
Qual carboidrato é melhor então?
Não existe melhor, pior, ou fórmula pronta. Como tudo na nutrição é preciso analisar e levar em consideração inúmeros fatores:
Qual esporte? É um exercício constante ou intermitente? Qual a duração? Qual intensidade? É treino, é prova? Qual nível de condicionamento do indivíduo? Costuma ter desconforto intestinal? Qual a tolerância individual? [...]
A estratégia de nutrição para um jogador de futebol será diferente do maratonista ou ironman, pois são esportes distintos que requerem metabolismos distintos. Da mesma forma, a estratégia de nutrição para treinos de baixa intensidade, de alta intensidade, de prova, também serão diferentes.
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REFERÊNCIAS
Achten, J., Jentjens, R. L., Brouns, F., & Jeukendrup, A. E. (2007). Exogenous Oxidation of Isomaltulose Is Lower than That of Sucrose during Exercise in Men. The Journal of Nutrition, 137(5), 1143–1148.
Oosthuyse T., Carstens M, Millen A. M. Ingesting Isomaltulose Versus Fructose-Maltodextrin During Prolonged Moderate-Heavy Exercise Increases Fat Oxidation but Impairs Gastrointestinal Comfort and Cycling Performance. Randomized Controlled Trial Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2015 Oct;25(5):427-38. doi: 10.1123/ijsnem.2014-0178. Epub 2015 Mar 26.
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